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sábado, novembro 06, 2010

Nascer de novo


Mr. Jones, homem viúvo de 57 anos de idade, senhor de si e dos seus actos… há muito que as suas acções deixaram de ser um obstáculo na sua consciência. O seu rendimento provém essencialmente das suas pinturas. Tem por hábito retractar jovens mulheres da vida nas suas pinturas. Uma vez por mês vai à caça, tal e qual um caçador vai ao encontro da sua presa.

Vagueia nas noites gélidas do Porto à procura de alguma prostituta que lhe sirva de inspiração e que lhe mate o desejo carnal. Com um tiro se matam 2 coelhos, diria eu… Finais de Dezembro de 1979 chegada a hora de mais uma caçada… Mr. Jones mete-se em direcção à baixa, a noite está calma… mais não seria de esperar, ora não fosse a época natalícia ocorrer nesta altura do ano. Passa por uma, duas, três, uma dúzia delas e… Ao longe na esquina do céu alguém se destaca, uma jovem prostituta com os seus cabelos dourados escondendo os seus volumosos seios. Decide dirigir-se até ela e começar a arte de regatear.

- Olá jovem, quanto é o preço?
Ela olha com alguma desconfiança para Mr Jones e pergunta: você é polícia?
- Não jóia, não sou polícia. Estás de serviço? Perguntava Mr Jones.
- Sim, amor. Estou sim. Quer fazer alguma coisa comigo?
- Claro, senão não estava a falar contigo não achas!
- E o que é que quer fazer comigo?
- O que achas caralho, quero foder depois logo se vê. Qual é o teu preço?
- Meia hora 15 euros com direito a tudo. Se gostar do meu serviço e depois quiser repetir fica mais barato.
- Está bem. Tenho o carro ali ao fim da rua, anda atrás de mim que eu levo-te até à minha casa bem perto daqui.
- Está bem mas não se esqueça que depois tem de me trazer de novo, está bem amor.
- Não te preocupes, estás a falar com um homem sério.

Mr Jones e a jovem prostituta lá se meteram no carro e rumaram até à sua casa bem perto dali.
Chegam a casa e Mr Jones encaminha a jovem prostituta até ao seu quarto. À sua espera estava uma cama de lençóis brancos em cima de um velho soalho em madeira. Como quarto aquilo pouco tinha já que Mr Jones usava o mesmo para por em prática a sua rotina mensal.
Inevitavelmente a jovem prostituta não podia deixar de reparar no cenário que tinha em frente de seus olhos. Telas pelos cantos, tinta por todos os lados, lençóis brancos e uma enorme tela branca hipnotizavam a jovem prostituta.

- Você pinta? Perguntava a prostituta.
- Sim. Dizem que sim. Porquê?
- Por nada…. Então a prostituta submerge num silêncio aterrador, despe-se e deita-se sobre a cama, pronta para mais um servicinho….
Mr Jones, olha fixamente para ela e lança-lhe um comentário em jeito de convite.
- Gostava de posar para mim? Mas olhe que se aceitar pode demorar a noite toda…
A jovem prostituta sem querer acreditar em tal convite, deixa escorrer algumas lágrimas sobre seu rosto e responde…
- Você era capaz de me fazer nascer de novo?


Quadro de Lucian Michael Freud

sexta-feira, novembro 05, 2010

Vontade de viver


Domingo pela manhã, dia de missa na igreja da aldeia. O sol irrompe pela janela de nosso quarto enquanto aguardo impaciente que minha irmã e a Teodora acabem de vestir meu esposo.

Ò meu esposo, que mal fizeste tu a Deus para tal infelicidade te bater à porta. Incapacitado para a vida mas não para mim. Teu sonho sempre foi correr, brincar, viver a vida como se todos os dias esse fosse o teu ultimo dia… e olha agora. Nossas brincadeiras e jogos de amor e paixão há muito que se ficaram por entre estas quatro paredes. Mas não importa, estarei sempre cá para ti… enquanto estiveres cá para mim. São horas de levantar e rumar a um espaço de reflexão e de tomadas de decisão. Por vezes, tu e eu sentimo-nos fracos, fracos para lutar, fartos desta vida…. Mas, enquanto o sol entrar por este quarto a dentro não podemos desistir, temos de ter forças para continuar a lutar… continuar a viver.

Quadro: As meninas de Paula Rego

segunda-feira, junho 04, 2007

Som

As flautas tocam
Os tambores preparam o seu mágico encanto
Os trombones fazem a diferença
E o homenzinho sempre a mecher
Sempre a mecher as mãos e os pauzinhos
E o resto obedece incontestavelmente
Tentando oferecer um pouco de alegria
Um pouco de sonho a quem comprou bilhete
Tentando dar um refugio, uma casa
Tentando fazer alguém feliz
Durante um pequeno grande momento de paixão
O som sai agudo e grave
As pessoas fecham os olhos
Tentando sonhar com o que mais adoram
Absorvem o ruído existente
Dão-lhe valor, dão-lhe um motivo
Um motivo para estarem sempre a tocar
Porque eles nunca o deixarão acabar.

1997

sábado, maio 19, 2007

Fronteira


Estou em frente a um portão
Pelo menos parece-se com um portão
Mas tambem pode não ser
Pode-me querer enganar
Pode-me querer ludibriar
Mas não importa
Hei de o ultrapassar
Vou abrir portas
Vou abrir caminhos para novos horizontes
Hei de ir para todo o lado
Subir serras e montes
Nada me poderá deter
Nem este maldito portão
Ou algo parecido
Nada me fará parar
Nada me deterá
Enquanto existir o amanhã.

1997

domingo, abril 22, 2007

Nada anda nada evolui


As horas não passam
O tempo recua
Chega o verão
As aves migram para Norte
As plantas encolhem
O céu torna-se escuro
O planeta torna-se cinzento
Nós tornamo-nos pedras
Pedras desgastadas pelo tempo
Os animais riem-se de nós
Fazem-nos partidas
Jogam, brincam connosco
No cemitério os defuntos deixam a morte
Nós tomamos os seus lugares
E eles reinam...
Crescem-nos raízes
Ficamos imóveis
Não saimos do sitio
Permanecemos sempre no mesmo lugar
O mundo está perdido!
O fim está perto!
O sol gira á volta da terra
A terra gira á volta da lua
Os peixes arrojam para cima de nós
Os animais alimentam-se da nossa carne
Alimentam-se a si e a seus filhos
Estamos perdidos
Vamos ser castigados
Castigados pelo vento
Castigados ao longo do tempo.

1997

segunda-feira, abril 09, 2007

Como é que eu permiti isto

Ai que dor
Ai que dor que eu senti
Que dor quando te vi
Tu e ele

Eu não podia acreditar
Eu não podia imaginar
Tu e ele

Ainda esfreguei os olhos
Ainda pestanejei algumas vezes
Porque eu não queria confirmar
Confirmar que sempre era verdade
Tu e ele

Ai que vou cair
Ai que não aguentarei
Vou cair no maldito caminho
Mas a culpa foi minha
Porque eu sempre fui um burrinho

Não soube falar contigo
Não soube dar o primeiro passo
Tornar-me teu amigo.

1997

domingo, abril 08, 2007

Imortalidade

Quem me dera ser imortal
Quem me dera que também tu fosses imortal
Quem me dera que permanecêssemos juntos
Juntos durante toda a vida
Durante toda a eternidade
Juntos sempre até ao fim
Até ao momento em que nos cortassem a cabeça
Mas mesmo nesse momento iríamos continuar juntos
Iríamos permanecer juntos para lá da morte
Espera, isto não é verdade!
Porque existe um problema depois de morrer
É que não podemos desfrutar os prazeres da terra
Logo iam-nos separar
E isso eu não quero.

Por isso não podemos deixar que nos cortem a cabeça
E já que não nos podemos amar no céu
Temos que nos amar aqui na terra
Isto é, se tu o quiseres
Porque tudo o que disse
Pode não corresponder ao que tu queres
E isso eu tambem não quero.

1997

sábado, abril 07, 2007

Teve de ser assim

Sou um ladrão
E como tal vou-te roubar
Vou roubar o teu amor
Porque já que não mo dás
Tenho de to tirar.

Concordo que não foi o mais adequado,
Mas foi o único meio que eu encontrei
Podes-me condenar por isso
Porque tens todo o direito para o fazer
Uma coisa dessas nunca se faz
Mas eu não encontrei outro modo de ter o teu amor
Eu sei que não sou um bom rapaz
Mas tambem tenho o direito de amar.

Por isso eu roubei o teu amor
Porque tu não o querias entregar
Não o querias partilhar.

1997

sexta-feira, abril 06, 2007

O meu olhar

Estou a tentar
Estou a tentar desviar o meu olhar
Porque ele só tem uma direcção
A tua,
Mas o teu olhar nunca corresponde com o meu
Por isso tenho de conseguir desviar o meu olhar
Procurar novas direcções,
Procurar novos motivos
Novos motivos para que ele não veja apenas a tua direcção
E parece que o vou conseguir
Vou aguardar mais um pouco até que os meus olhos se fechem,
Se fechem por se sentirem cansados,
Cansados de estarem sempre á espera
Á espera de algo que nunca irão ter
E quando assim for
Aproveito para desviar o meu olhar
Para que ele não desconfie e que não possa sofrer
Porque já não tem para quem olhar
Pelo menos para quem ele desejava
Mas penso que esta nova direcção tambem é muito boa
Porque também ela é muito bonita
Correspondendo com os gostos do teu olhar
Assim não vai começar a chorar
Porque agora é mais uma para ele desejar amar.


1997

quarta-feira, dezembro 27, 2006

A tua sombra

Senti um arrepio
Pressenti que estavas em perigo
Oxalá estejas bem
Pois não volta a acontecer
Não voltas a ficar em perigo
Porque a partir de hoje
Vou-te proteger
Vou passar a ser a tua sombra
Irei contigo para onde quer que vás
Quando estiveres em perigo
Eu te defenderei
Proteger-te hei
Livrar-te hei do teu inimigo
Livrar-te hei do que te pode fazer sofrer
Nem que para isso tenha de morrer.